quinta-feira, 21 de junho de 2012

O professor universitário como agente transformador

Nos últimos anos, a preocupação com a formação docente vem ganhando espaço na área educacional. Na década de noventa, no quadro das mudanças sociais e tecnológicas que apresentavam novas maneiras de pensar, trabalhar e organizar o conhecimento, algumas redefinições das práticas educacionais tenderam a ampliar os papéis sociais e profissionais tradicionalmente atribuídos e constituídos aos professores universitários. 

Ninguém duvida que a formação docente é um fator essencial na qualidade da educação seja ela básica ou superior. Cada profissão tem seus cânones, que podem ser da esfera de uma teoria do conhecimento, de instituições formadoras ou de ordem cultural. Supondo já estes cânones, mesmo nas suas diversas variações, o que é ser professor?

                               Aula em Campos Novos 

De um modo geral pode-se classificar a dimensão pessoal e a dimensão institucional, como formadoras e caracterizadoras da condição de ser professor universitário. Mas, o que realmente interessa no que tange ao seu papel transformador é compreender o inter e o intrajogo vividas pelo professor em sua dimensão pessoal. 

Tanto a psicologia, quanto à sociologia e de igual forma a antropologia contribuem para explicação do processo de construção da subjetividade do professor nos seus aspectos assimilativos, relacionais, individuais e sociais. Todavia, existem questões mais importantes para essa conceituação, como a facilitação do ensino-aprendizagem, a qual tange a esfera da subjetividade do professor, marcando sua condição de ser professor.

Cite-se o exemplo do professor que se propõe a provocar discussões entre seus alunos, onde busca suscitar a reflexão e, no auge da discussão, pede insistentemente a palavra para explanar seu próprio pensamento ou mesmo, sempre tem algo a acrescentar depois da fala dos alunos, mesmo que estes tenham exposto de modo claro e completo o assunto debatido.

O referido professor sente ao falar um grande prazer – um prazer de ter sido ouvido. E, sente também, um prazer em se perceber e ser percebido como uma pessoa bastante sabida. É congruente com o que se espera dele, ou seja, um professor que conhece, amarra as discussões e sabe ter a palavra. 

                                III Congresso de Novos Direitos 

Todavia, tal relação se repetitiva, pode provocar uma construção subjetiva entre os sujeitos, totalmente contrária aos ideais e interesses iniciais do professor, especialmente no que diz respeito à cooperação, participação, motivação e interesse dos alunos na assimilação dos conteúdos.

Não basta o professor universitário querer racionalmente ser democrático e cooperativo na relação com seus alunos. É preciso que sua práxis, que sua condição de ser com outro seja vivido a partir de uma coerência com o que pensa e com o que diz através de diferentes metodologias. Enquanto os aspectos da subjetividade do professor não forem transformados ele falhará em seus intentos.

É necessário, para tanto, apreender a condição de ser professor a partir do vivido nas relações cotidianas de sala de aula para buscar a transformação, o crescimento e o desenvolvimento do profissional professor.

                                                                   Theo com 08 meses!

Essa origem semântica, que resume o valor intrínseco e original do “ser professor”, está esquecida, perdida no tempo, especialmente na educação superior, em que o imaginário, o diferente - é repelido pelas formalidades e padrões estáticos das instituições. 

Outro aspecto pouco considerado atualmente, trata-se em definir quais as habilidades e conhecimentos devem ter um professor, que, por certo, devem transpor apenas o domínio do conteúdo que irá ensinar. 

No que se segue, deseja-se argumentar que uma forma de repensar e reestruturar a natureza da atividade docente é encarar os professores universitários como intelectuais transformadores.

A categoria de intelectual é útil de diversas maneiras. Primeiramente, ela oferece uma base teórica para examinar a atividade docente como forma trabalho intelectual, em contraste com sua definição em termos puramente instrumentais ou técnicos. Em segundo lugar, ela esclarece os tipos de condições ideológicas e práticas necessárias para que os professores funcionem como intelectuais. Em terceiro, ela ajuda a elucidar o papel que os professores desempenham na produção e legitimação de interesses políticos, econômicos e sociais variados através das pedagogias por eles endossadas e utilizadas. 

                                            Visita ao Presídio Joaçaba - Aula prática 

Ao encarar os professores universitários como intelectuais, pode-se elucidar a importante idéia de que toda a atividade humana envolve alguma forma de pensamento. Este ponto é crucial, pois ao se argumentar que o uso da mente é uma parte geral de toda atividade humana, se dignifica a capacidade de integrar o pensamento e a prática, e, assim, destacar a essência do que significa enxergar estes professores como profissionais reflexivos.

Dentro deste discurso, os professores universitários, vulgos, docentes, podem ser vistos não simplesmente como operadores profissionalmente preparados para atingirem metas de aprovação a eles apresentados, ao invés disso, devem ser vistos como homens e mulheres livres, com uma dedicação especial aos valores do intelecto e ao fomento da capacidade crítica dos jovens e adultos em um largo espectro de formação.

Assim que, educar é ensinar a agir, sendo que o conhecimento não é um luxo intelectual que o ser humano adquire abstratamente, mas, o qual resulta de circunstâncias práticas que visam solucionar situações reais da vida. Quem conhece transita livre pela vida, pelos ideais que se propõe.

                                                         Theo e sua bicicleta 

De igual forma, o papel do ensino não pode ser reduzido ao simples treinamento de habilidades práticas, ao invés disso, ele deve envolver a educação de uma classe de intelectuais, vital pra o desenvolvimento de uma sociedade livre, necessária para o desenvolvimento de uma ordem e sociedade democráticas.

Num sentido mais amplo, os professores, como um todo, devem se tornar intelectuais transformadores se quiserem educar os estudantes para serem cidadãos ativos e críticos. Sua missão é apontar o significado das coisas, assinalarem o que julgam importante, marcante, distinto; e, para isso é necessário selecionar, escolher e julgar o objeto de estudo segundo seus próprios critérios subjetivos.

Quando se ensina algo, por mais que seja apenas um conteúdo do currículo tradicional, deve estar contido na forma de ensinar seus próprios valores culturais, morais e éticos, além de sua capacidade de interpretar os signos e de se comunicar. Para além do que diz ou escreve, o ato de ensinar inclui também seu comportamento pessoal, sua maneira de ser, pensar e agir, até mesmo fora da escola/universidade. 

Ser professor refere-se também, e, sobretudo, ao exemplo que se dá. Mais do que “transmitir saberes”, ensinar é emitir novos signos que os alunos: recebem, digerem, interpretam e levam vida afora.
                                     Renata, Grazi e Eu, na visita técnica, em São Cristovão do Sul

Para desempenhar adequadamente esse importante papel, o professor universitário, como os demais profissionais da época atual, não podem ser acomodados, alguém que já considere ter chegado ao máximo em sua sabedoria. Pelo contrário, devem estar sempre "insatisfeitos" com o seu trabalho no sentido de que sintam que há sempre algo a mais a fazer. Há muito ainda à aprender. Enfim, devem procurar aperfeiçoar o seu trabalho, para fazer da sala de aula suas conquistas e pesquisas.

Porém, tudo isso só irá acontecer quando os professores dominarem, além dos conteúdos que irão ensinar, também as metodologias do ensino – a didática. Nenhum resultado de aprendizagem irá ocorrer se os professores saibam o que ensinar, mas continuarem a ignorar o como ensinar.  Não se deve perder o sentido do que se faz.

                                                                          Chuvisco bebê

Ensinar vem do latim insignare que significa 'marcar com um sinal', indicar um caminho, um sentido. Educa-se, quando se ensina com sentido. Educar é impregnar de sentido a vida e a profissão docente está centrada na vida, no bem querer.

Muitos acadêmicos chegam hoje à universidade, na maior parte das vezes, sem saber por quê estão ali. Não vêem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não aprender o que lhes é ensinado. E aí entra o papel do professor universitário: construir sentido; transformar o obrigatório em prazeroso; selecionar criticamente o que se deve aprender numa era de impregnação de informações. Motivar os alunos é obrigação do professor; fazer que eles compreendam a utilidade e importância do que estão estudando é também tarefa do professor e não do aluno como muitos pensam...


                                                       Grão e Theo 

Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem professor. Eles não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas, também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido para a vida, afirmam valores e, buscam, numa visão emancipadora, um mundo mais humanizado, mais produtivo e mais saudável para a coletividade. 

Ser professor obriga a opções constantes, 
que cruzam sua maneira de ser com a sua maneira de ensinar e
que desvenda na sua maneira de ensinar sua maneira de ser.

Nesta descrição do que deva ser o professor universitário do século XXI, não tem mais espaço para professores donos de um saber, mas apenas lugar para aqueles que tenham a humildade de também serem aprendizes pois, a única diferença que os separa de seus alunos é que eles - professores, são profissionais do ensino e, por isso, comprometidos com o aprender e o ensinar. 

                                       Pintura da sala da chacará!

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