Nos
últimos anos, a preocupação com a formação docente vem ganhando espaço na área
educacional. Na década de noventa, no quadro das mudanças sociais e
tecnológicas que apresentavam novas maneiras de pensar, trabalhar e organizar o
conhecimento, algumas redefinições das práticas educacionais tenderam a ampliar os papéis sociais e profissionais tradicionalmente atribuídos e
constituídos aos professores universitários.
Ninguém duvida
que a formação docente é um fator essencial na qualidade da educação seja ela básica ou superior. Cada
profissão tem seus cânones, que podem ser da esfera de uma teoria do conhecimento,
de instituições formadoras ou de ordem cultural. Supondo já estes cânones,
mesmo nas suas diversas variações, o que é ser professor?
Aula em Campos Novos
De um modo
geral pode-se classificar a dimensão pessoal e a dimensão institucional, como
formadoras e caracterizadoras da condição de ser professor universitário. Mas, o que realmente
interessa no que tange ao seu papel transformador é compreender o inter e o intrajogo vividas
pelo professor em sua dimensão pessoal.
Tanto a
psicologia, quanto à sociologia e de igual forma a antropologia contribuem para explicação do
processo de construção da subjetividade do professor nos seus aspectos assimilativos,
relacionais, individuais e sociais. Todavia, existem questões mais importantes para essa conceituação, como a facilitação do ensino-aprendizagem,
a qual tange a esfera da subjetividade do professor, marcando sua condição de ser
professor.
Cite-se o exemplo do professor que se propõe a provocar discussões entre seus
alunos, onde busca suscitar a reflexão e, no auge da discussão, pede insistentemente
a palavra para explanar seu próprio pensamento ou mesmo, sempre tem algo a
acrescentar depois da fala dos alunos, mesmo que estes tenham exposto de modo
claro e completo o assunto debatido.
O referido
professor sente ao falar um grande prazer – um prazer de ter sido ouvido. E,
sente também, um prazer em se perceber e ser percebido como uma pessoa bastante
sabida. É congruente com o que se espera dele, ou seja, um professor
que conhece, amarra as discussões e sabe ter a palavra.
III Congresso de Novos Direitos
Todavia, tal relação se
repetitiva, pode provocar uma construção subjetiva entre os sujeitos,
totalmente contrária aos ideais e interesses iniciais do professor, especialmente no que diz
respeito à cooperação, participação, motivação e interesse dos
alunos na assimilação dos conteúdos.
Não basta o
professor universitário querer racionalmente ser democrático e cooperativo na relação com
seus alunos. É preciso que sua práxis, que sua condição de ser com outro seja
vivido a partir de uma coerência com o que pensa e com o que diz através de diferentes metodologias. Enquanto os
aspectos da subjetividade do professor não forem transformados ele falhará em
seus intentos.
É necessário,
para tanto, apreender a condição de ser professor a partir do vivido nas
relações cotidianas de sala de aula para buscar a transformação, o crescimento
e o desenvolvimento do profissional professor.
Essa
origem semântica, que resume o valor intrínseco e original do “ser
professor”,
está esquecida, perdida no tempo, especialmente na educação superior, em
que o imaginário, o diferente - é repelido pelas formalidades e padrões
estáticos das instituições.
Outro aspecto pouco considerado atualmente, trata-se em definir quais as habilidades
e conhecimentos devem ter um professor, que, por certo, devem transpor apenas o domínio do conteúdo que irá ensinar.
No
que se segue, deseja-se argumentar que uma forma de repensar e reestruturar a
natureza da atividade docente é encarar os professores universitários como intelectuais
transformadores.
A
categoria de intelectual é útil de diversas maneiras. Primeiramente, ela
oferece uma base teórica para examinar a atividade docente como forma
trabalho intelectual, em contraste com sua definição em termos puramente
instrumentais ou técnicos. Em segundo lugar, ela esclarece os tipos de
condições ideológicas e práticas necessárias para que os professores funcionem
como intelectuais. Em terceiro, ela ajuda a elucidar o papel que os professores
desempenham na produção e legitimação de interesses políticos, econômicos e
sociais variados através das pedagogias por eles endossadas e utilizadas.
Visita ao Presídio Joaçaba - Aula prática
Ao
encarar os professores universitários como intelectuais, pode-se elucidar a importante idéia
de que toda a atividade humana envolve alguma forma de pensamento. Este ponto é
crucial, pois ao se argumentar que o uso da mente é uma parte geral de toda
atividade humana, se dignifica a capacidade de integrar o pensamento
e a prática, e, assim, destacar a essência do que significa enxergar estes
professores como profissionais reflexivos.
Dentro deste
discurso, os professores universitários, vulgos, docentes, podem ser vistos não simplesmente como operadores
profissionalmente preparados para atingirem metas de aprovação a eles
apresentados, ao invés disso, devem ser vistos como homens e mulheres livres,
com uma dedicação especial aos valores do intelecto e ao fomento da capacidade
crítica dos jovens e adultos em um largo espectro de formação.
Assim que,
educar é ensinar a agir, sendo que o conhecimento não é um luxo intelectual que
o ser humano adquire abstratamente, mas, o qual resulta de circunstâncias práticas que
visam solucionar situações reais da vida. Quem
conhece transita livre pela vida, pelos ideais que se propõe.
Theo e sua bicicleta
De igual forma, o papel do
ensino não pode ser reduzido ao simples treinamento de habilidades práticas, ao invés disso, ele deve envolver a educação de uma classe de intelectuais, vital
pra o desenvolvimento de uma sociedade livre, necessária para o desenvolvimento de uma ordem e sociedade
democráticas.
Num sentido
mais amplo, os professores, como um todo, devem se tornar intelectuais transformadores se quiserem
educar os estudantes para serem cidadãos ativos e críticos. Sua missão é
apontar o significado das coisas, assinalarem o que julgam importante,
marcante, distinto; e, para isso é necessário selecionar, escolher e julgar o
objeto de estudo segundo seus próprios critérios subjetivos.
Quando se
ensina algo, por mais que seja apenas um conteúdo do currículo tradicional, deve estar contido na forma de ensinar seus próprios valores culturais, morais e
éticos, além de sua capacidade de interpretar os signos e de se comunicar. Para além do
que diz ou escreve, o ato de ensinar inclui também seu comportamento pessoal,
sua maneira de ser, pensar e agir, até mesmo fora da escola/universidade.
Ser professor
refere-se também, e, sobretudo, ao exemplo que se dá. Mais do que “transmitir
saberes”, ensinar é emitir novos signos que os alunos: recebem, digerem, interpretam e levam vida afora.
Renata, Grazi e Eu, na visita técnica, em São Cristovão do Sul
Para
desempenhar adequadamente esse importante papel, o professor universitário, como os demais
profissionais da época atual, não podem ser acomodados, alguém que já
considere ter chegado ao máximo em sua sabedoria. Pelo contrário, devem estar
sempre "insatisfeitos" com o seu trabalho no sentido de que sintam que
há sempre algo a mais a fazer. Há muito ainda à aprender. Enfim, devem procurar
aperfeiçoar o seu trabalho, para fazer da sala de aula suas conquistas e
pesquisas.
Porém, tudo
isso só irá acontecer quando os professores dominarem, além dos conteúdos que
irão ensinar, também as metodologias do ensino – a didática. Nenhum resultado de
aprendizagem irá ocorrer se os professores saibam o que ensinar, mas
continuarem a ignorar o como ensinar. Não
se deve perder o sentido do que se faz.
Chuvisco bebê
Ensinar vem do
latim insignare que significa 'marcar com um sinal', indicar um caminho,
um sentido. Educa-se, quando se ensina com sentido. Educar é impregnar de
sentido a vida e a profissão docente está centrada na vida, no bem querer.
Muitos
acadêmicos chegam hoje à universidade, na maior parte das vezes, sem saber por quê estão
ali. Não vêem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não aprender o
que lhes é ensinado. E aí entra o papel do professor universitário: construir
sentido; transformar o obrigatório em prazeroso; selecionar criticamente o que se
deve aprender numa era de impregnação de informações. Motivar os alunos é
obrigação do professor; fazer que eles compreendam a utilidade e importância do
que estão estudando é também tarefa do professor e não do aluno como muitos
pensam...
Grão e Theo
Ser professor
hoje é viver intensamente o seu tempo, com consciência e sensibilidade. Não se
pode imaginar um futuro para a humanidade sem professor. Eles não só
transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas, também
formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido para a vida, afirmam valores e, buscam, numa visão emancipadora, um
mundo mais humanizado, mais produtivo e mais saudável para a coletividade.
Ser professor
obriga a opções constantes,
que cruzam sua maneira de ser com a sua maneira de
ensinar e
que desvenda na sua maneira de ensinar sua maneira de ser.
Nesta descrição
do que deva ser o professor universitário do século XXI, não tem mais espaço para professores
donos de um saber, mas apenas lugar para aqueles que tenham a humildade de também
serem aprendizes pois, a única diferença que os separa de seus alunos é que eles
- professores, são profissionais do ensino e, por isso, comprometidos com o
aprender e o ensinar.
Pintura da sala da chacará!