sexta-feira, 14 de maio de 2010

Apenas um puxão de orelha

Entrega de muitos trabalhos ao mesmo tempo sempre gera um desconforto. Normal, afinal de contas estamos sendo avaliados. E não por um, mas por muitos trabalhos. O que pode nos demonstrar se nosso desempenho está bom ou nem tanto assim. Quando ele - o desempenho - não está a contento, aquele desconforto volta e às vezes se volta contra quem nos avaliou. Coisas da vida, afinal estamos sendo julgados... Mas, não é o julgamento dos outros que nos desconforta. O que nos desconforta é o nosso próprio julgamento. Esse sim, o desconforto maior - já que é o julgamento da alma.

Enfim, já tive vários desconfortos nesse sentido principalmente quando eles eram causados e não justificados por quem, a primeira vista me causou. Assim, preciso me justificar com vocês. Explicar o porquê do puxão de orelha em alguns. E o faço a todos que hoje estavam presentes, também aos que não estavam e aos que, por ventura, queiram saber.


Roleta

Antes, deixe-me contar um pouco de mim para vocês. Meu lado professora. Tenho muitos lados. Segundo minha terapeuta Lú, minha parceira em alguns projetos de vida, minha personalidade é feita de vários lados, muitos "eus". Ela disse para eu imaginar minha personalidade como uma roleta. Cada faixa de uma cor e um número. Então, minha personalidade é igual. Só que ao invés de cores e números, são perfis dos papéis que interpretamos na vida. Assim, temos a Carolina Advogada, a Carolina Mãe, a Carolina Professora, a Carolina Esposa, a Carolina Amiga, a Carolina Estudante, a Carolina Filha, a Carolina Irmã, sobrinha, neta, prima, escritora, aluna...
Lú, Maria, Eu e Joana

Então, meu lado professora sempre foi meio inato. É algo que nasceu comigo. Adoro ensinar. Veio no gen, de certeza. Vó Sula e Vovô Herasmo, professores de Geografia e História. Amo essa matérias. Elas me contextualizam no mundo. Meus avós me ensinaram desde cedo, desde que nasci, o papel de educar - literalmente. Sempre firmes e pacenciosos. Afinal, a educação não é só a transmissão do conteúdo. Ela é mais, é muito mais.

Já ouviram falar do grande chavão que só a educação transforma, não é mesmo? Educar no dicionário informal é - dar (a alguém) todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento da sua personalidade; 2 - ministrar educação a; 3 - desenvolver as faculdades de; instruir; 4 - adestrar; exercitar; 5 - robustecer (o organismo) por meio de exercícios físicos (exercícios psicológcos também são exercícios físicos); 6 - aclimatar; domesticar; 7 - receber educação; instruir-se; cultivar-se; aperfeiçoar-se; 8 - procurar atingir um alto grau de desenvolvimento espiritual; Do latim educare,"idem".

Assim, não se chateiem quando cobro responsabilidade de vocês com os estudos e faço puxões de orelha. Gente, o Processo Civil é a espinha dorsal de muitos ramos do direito. O Direito do Trabalho, o Direito Tributário, o Direito Administrativo e o gigantesco Direito Civil precisam de sua existência e compreensão para subsistirem. Sem falar dos Direitos Fundamentais; o que seria a coisa julgada sem a sua existência?

Pequeno puxão de orelha

O estudo para ser bom, o professor para ser bom, o aluno para ser bom naquilo que compartilham durante uma disciplina devem se doar a esse processo de ensino e aprendizagem para chegarem ao pleno conhecimento, a ponto de incoporá-lo e toná-lo como se inato fosse. Essa é a nossa bagagem. É isso que nossos pais querem que nós herdemos, os estudos. Não os estudos, mas o conhecimento que alcançamos através dele.

Não digo que vocês não se dedicam, todavia, ninguém nasce sabendo. Isso é fato incontroverso. Tudo se aprende. Se aprende a segurar, a andar, a fazer xixi, cocô no vaso, namorar, beijar, estudar, trabalhar e por ai vai. E para que se tenha tranquilidade nessa vida é preciso aprender a estudar e, principalmente, saber onde se quer chegar com esses estudos.

A vida lá fora não é fácil. Digo isso porque vocês ainda estão proteidos pela muralha da universidade. É o mundo cão. Pobre cão. Imagino um viralatas. Meu pai sempre que terminavamos de almoçar dizia: Hoje eu vou matar mais um leão. Não entendia bem esse leão... no meu mundo até o viralatas era feliz.


                                          Mel, nossa cão viralatas

O tempo passou, eu cresci e hoje o leão está até em extinção. Na natureza apenas. Na vida real eles até se multiplicaram. A vida não dá mole não. Por isso hoje, como o consenso da terceira idade em geral, também acho que a melhor fase da vida está na juventude. E vocês que estão na juventude, na flor da idade, nos anos dourados, não será nada ruim se puderem desde já se preparar para a realidade.

A verdade é que a vida de adulto e cheia de avaliações que não nos dão chance de nenhum tipo de explicação. É uma cobrança geral. Avaliação a toda hora. Julgamentos, muitos deles. Obrigações na veia e Direitos que é bom, nada! Cobra o chefe, cobra o filho, cobra o marido, cobra a mãe, cobra a sogra, cobra o banco, cobra o Estado, a sociedade, tudo nos cobra. Estamos sempre em teste. Matando um leão hoje para comer outro amanhã. Mundo cão. Do mais viralatas, daqueles bem pulguentos e com muitas sarnas.

                                                              Chacará da vó do Rubão

Ainda bem que isso é só uma perspectiva, pois dentre todos os meus lados, a minha faixa da roleta professora, acredita numa nova educação, pautada em novos valores éticos e sociais, visando construir uma sociedade fraterna e justa.

Fazer puxões de orelha (não aceitar a peça da tutela antecipada, não aceitar trabalhos atrasados, não aceitar vícios como a fraude - cópia de trabalho - e erro, questão do livro) para conseguir passar alguns valores que considero essenciais como responsabilidade e verdade, e, sempre reconhecendo com humildade minhas próprias falhas (desculpem meninos), utilizando sempre que a circunstância demandar do bom senso, acredito que posso levá-los a esse caminho.   

Afinal, também sou professora de Direito Internacional. Acredito nos blocos de integração e nos tratados internacionais e no Direito Comunitário. Não euro, não caia e leve a União Européia com você. Acredito que juntos o povo europeu irá encontrar suas soluções. Juntos nós iremos econtrar as nossas. Juntos o mundo não nos puxará tanto as orelhas, acolherá seus cães viralatas e deixará que os leões vivam em paz!

Abaixo a extinção!

Ah! E estética para mim é tudo! Vivam as formas!


The tree of life - Gustav Klimt

5 comentários:

  1. Realmente um puxão de orelha pode nos mostrar que sempre temos uma oportunidade de melhorar, como alunos e como pessoas. Beijos!

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  2. Sábias e corretas palavras Carol... e assim ensina-nos ainda mais! Somos viralatas em plena fase de farejar e encontrar nosso próprio território, porém, os obstáculos e esse tal de cobra-cobra nos atingindo de todos os lados, tornam a tarefa cansativa. O que por muitas vezes provoca o desleixo em cumprir com responsabilidade e esmero o que nos é designado. Masssss, nada como um bom puxão de orelha e uma “notinha” para fazer nascer àquela vontade de caprichar, recuperar e demonstrar o quanto se pode ser capaz não é mesmo. Até mais, beijos.

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  3. É complicado mesmo Carol... O mais difícil é fazê-los compreender que nosso esmero em "educar" em todos os sentidos significa comprometimento com nossa função, significa que nos comprometemos com a nobreza desta função de ensinar; e não apenas em "bater ponto" na universidade, pois nossos vencimentos não se alteram em qualquer dos casos! E certamente o real compromisso é muitas e muitas vezes mais trabalhoso, cansativo e desgastante. Mas veja só, quando conseguimos chegar até eles, nenhum salário paga esta satisfação de poder contribuir com o crescimento pessoal e profissional de alguém. Continue firme em seus propósitos!

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  4. Sem dúvidas Carol, e hoje matamos mais de um leão por dia, a vida esta cada vez mais dura e devemos sempre procurar melhorar em vários aspectos.
    Outra questão importante, é que esperamos nas aulas obter respostas para tudo, ou seja, esperamos que os professores sejam nossas verdadeiras Doutrinas, ao invés de aprimorarmos conhecimentos atráves de leituras. Demais, as aulas servem para expor dúvidas, criar inccógnitas, seguindo o exemplo de uma bela propaganda " Não são as respostas que movem o mundo, mas sim as perguntas"!.

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